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22/01/09

Curtos momentos, eternos os pensamentos...


Não gosto de dizer adeus nem a nada nem a ninguém. Por vezes torna-se obrigatório um aceno, um longo abraço, algumas palavras de despedida. Dizer adeus quando se parte sem dia marcado de regresso, é como antecipar um fim que não existe. Um até breve é o espaço de um tempo de um curto momento, mas que se recorda nos dias que se irão seguir.
Num despregar de dedos, recorda-se o calor que fica de umas mãos que nos apertaram, um calor mais forte que uma lareira acesa que não aquece o coração. No despregar de um beijo, recorda-se o calor dos lábios que se pregou ao rosto e dele não sai. Num abraço forte, recorda-se o aconchego da harmonia dos corpos entrelaçados. Ouvir o disco favorito tocar e depois guardá-lo para ouvir um dia, é lembrar que a nossa musica não parte, mas ali fica, tal como os livros que ficarão poeirentos, mas que esperam e não maçarão ninguém. Ninguém nem nada se alimenta de um adeus, mas de todos os gestos que o precederam.
Nada se perde, e dizer adeus por fora é criar laços eternos para dentro, numa história que se entrelaça com o primeiro passo depois da despedida. Ninguém me poderá dizer um dia: esqueceste-me! Eu direi: nunca te disse adeus, mas ausentei-me apenas durante um tempo necessário da tua presença física. O meu disco favorito reclamará: nunca mais me ouviste! Eu direi: não esqueci as tuas músicas.
Nunca posso dizer adeus ao que está e fica dentro de mim. Por isso não gosto de dizer adeus nem a nada nem a ninguém.